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Será que todo encontro com o passado de fato, segue o mesmo itinerário?

Essa poderia ser mais uma news contando uma história de um date desastroso - e talvez seja. Mas resolvi experimentar e contar essa história de uma forma diferente - não que a experiência em si não tenha sido altamente delirante, mas no fim, foi mais esclarecedor do que qualquer outra coisa.  

Desde que decidi, depois de uma vida engatando um relacionamento no outro, que iria me dar um tempo e descobrir quem eu era fora do status namorando, muitas coisas mudaram: inclusive a forma como eu enxergo uma relação e a intimidade que ela traz. Eu passei a olhar mais para o que estava ligado a minha vida sem dar importância ou espaço para qualquer coisa/pessoa que me tirasse daquela linha reta que escolhi.

Um ponto importante ANTES de começar: essa história é minha, mas entendo que facilmente poderia ser de qualquer mulher, visto que, assim que comecei a dividi-la, a frase que mais ouvi foi "amiga, mas isso sempre acontece".

Há mais ou menos um mês, eu acabei "esbarrando" com um cara da minha cidade natal em fotos de amigas no instagram, um cara que eu sabia quem era desde a época da adolescência. Achei que ele continuava uma pessoa interessante e acabei adicionando e colocando ele nos meus close friends - vocês sabem, né meninas -, e começamos a conversar. Não sei se foi o fato de morarmos longe e dentro de mim ele não apresentava "uma ameaça" a qualquer mudança que eu pudesse ter em postura ou na vida, assim, fui me deixando levar, e a conversa, a fluir. 

Foi a distância também que permitiu com que eu, que até então estava oferecendo a profundidade de um pires, conseguisse me dar a oportunidade de falar sobre coisas que eu não dividia há muito tempo. Confesso que eu também estava com saudade de me sentir interessada ao ponto de ficar intrigada, curiosa e perder alguns momentos do dia pensando na pessoa. Então segui o conselho de algumas amigas - vocês me pagam - e relaxei.

Eu já estava programando para ir para a minha cidade há algum tempo e decidi que poderia ser um bom momento para ir visitar todos. Comprei a passagem, avisei a ele e combinamos de nos encontrar. 

É aqui que a coisa começa.

Nós de fato nos encontramos em uma quinta-feira de chuva, em um quarto de hotel da cidade - eu tinha ganho algumas diárias dessa rede no trabalho e pensei, porque não usar dessa forma? -, quarto esse de que só saímos às 10h da manhã do dia seguinte. 

E foi justamente no dia seguinte que a minha cabeça começou a pensar: ok, por que não me sabotar e jogar tudo pra casa dos caralho

Antes das 20h do mesmo dia em que tínhamos acordado juntos, eu mandei uma mensagem completamente desnecessária com aquelas fontes que a gente mais adora: as vozes da nossa cabeça. Foi uma mensagem carente, insegura e com uma certa cobrança. Uma mensagem, que eu com certeza não teria gostado de receber de ninguém.

"Fiquei puta que você não me mandou mensagem durante o dia.”

Eram 19h, a gente tinha se visto às 11h. Ênfase no puta, porque foi exatamente a palavra que usei.

E eu poderia ficar horas tentando explicar o porquê eu enviei aquela mensagem, mas acho que vou resumir ao fato de que às vezes, a forma mais simples e segura de sair de uma situação é evitando que ela aconteça. Não é a forma mais madura, ainda mais quando temos quase trinta anos, mas existe maturidade quando estamos falando sobre o que sentimos? Talvez sim, talvez não. Me diga você.

A questão é: quando percebi o que tinha feito, me afastei

Trocamos algumas mensagens nos dias seguintes, mas nada demais. No sábado, saí com uma amiga para tomar uns drinks e atualizar uma vida toda. Depois de alguns - vários cosmopolitans -, resolvemos descer a rua para um bar que virou uma espécie de "point” na cidade. Encontrei outras amigas e fiz aquela escolha que sempre dá um saldo super positivo: misturei bebida achando que ainda tinha 20 anos.

Você deve estar imaginando o que aconteceu em seguida, mas eu faço questão de escrever: lá pelas onze da noite, olho para o lado e vejo ele - sim, o cara - chegando com outra menina. Fiquei alguns momentos me perguntando se ela era amiga dele ou se ele realmente estava em um date e, claro que uma ariana jamais ficaria na dúvida, decidi ir até ele dar oi e perguntar. 

Acho que uma das expressões mais engraçadas que vou levar por um bom tempo é a cara dele quando eu parei na frente e disse: boa noite, tudo bem? 

Ele de fato me respondeu que estava em date e eu, com alguns cosmopolitans e cerveja barata do mercado ao lado, apertei a mão dele e disse: Parabéns, foi ótimo, hein. Ele me respondeu: Foi. 

PS: E o pior é que foi mesmo.

Aqui fica um adendo importante: Essa situação pode ter diversas leituras, de acordo com a forma como você enxerga as coisas, de acordo com o que você está acostumado a receber e dar, e de acordo com aquilo que você considera legal ou não. Eu, em primeiro momento, passei por uma mistura de entender que eu não achei legal e que esse sentimento não estava relacionado ao fato de ficarmos apenas uma vez, porque, veja bem, se fosse uma pessoa que eu tivesse conhecido dois dias antes e ficado uma noite, sinceramente, eu não estaria nem ligando. A questão, nesta situação específica, foi a troca que tivemos anteriormente, de tudo o que eu, tinha compartilhado com ele, me expondo e me deixando vulnerável. 

A grande questão é que eu não teria feito o mesmo. Mas isso está relacionado às minhas expectativas e ao meu comportamento, e nada tem a ver com o outro. O outro, no fim do dia, não nos deve muito a não ser aquilo que ele consegue nos dar

Nos próximos dias me desprendi do que tinha acontecido, fiquei aproveitando meus amigos e família. Até que um dia, às 8h30 da manhã, meu celular resolveu me sabotar e, dentro da minha bolsa, ligou pra ele. 

Passamos alguns dias conversando e, confesso, foi importante para mim entender, através da perspectiva dele, o que tinha acontecido. Assim como eu, ele também teve suas opiniões sobre a maneira como eu tentei atropelar algumas coisas, a forma como eu abordei ele com a menina, e como isso fez com que algo que poderia ter sido leve, se transformasse em uma discussão e desconforto pós primeiro date. 

Meu voo de volta para São Paulo era na quarta-feira primeiro horário da tarde e nos encontramos para um café na terça-feira, final do dia. 

Depois de alguns minutos falando sobre o que tinha acontecido, o assunto mudou e abrimos espaço para uma conversa leve sobre amenidades, que acabou indo para uma loja de roupas e algumas risadas. Pedi para que ele fosse comigo na livraria, mas era dia de jogo e ele iria.

"Preciso ir.”

Quando fomos nos despedir, tivemos aquele beijo de canto de boca que acabou virando motivo de risadinha e terminando em um abraço sem jeito, sem tempo e sem final.

Conversamos um pouco depois disso. Talvez, por achar que de fato as coisas acabaram indo para um lugar que não precisava. Não sei.

Como eu disse, ficaram algumas coisas esclarecidas pra mim: eu não estava tão preparada quanto achava que estava para criar uma espécie de intimidade com alguém e minhas atitudes refletiram isso. 

Como sou uma otimista inabalável e uma grande fã de rir de si mesma, não saí dessa “história” pensando em culpados ou em me proteger. Pelo contrário, às vezes, é nos tropeços que enxergamos as coisas que precisamos amadurecer ou as coisas que realmente nos interessam no outro. 

E parafraseando a nossa querida, Carrie Bradshaw, “I couldn't help but wonder”: as melhores histórias, as que dividimos com as nossas amigas, na intimidade ou em uma mesa de bar, não são justamente essas

Tudo depende da perspectiva - e como é bom, poder mudá-la quantas vezes for necessário.

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