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“amori e bicchieri di vino, non si contano mai”
um Penne alla Norma e um quase amor, por favor.
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Tenho alguns restaurantes preferidos na minha cidade natal, um deles é um italiano que ficava aproximadamente 15 minutos da minha casa caminhando. Durante anos levei minha família, meus (hoje exs) namorados e amigas para compartilhar comigo a minha grande obsessão: o penne alla norma do lugar.
Para quem não sabe: essa massa é, basicamente, o paraíso dos amantes da berinjela, que vai com muito azeite de oliva, molho de tomate, alho, pimenta do reino, sal, pimenta vermelha, vinagre de vinho branco de ervas, manjericão fresco e ricota ou mozzarella.
É daqueles comfort places que a gente ama. O que eu não sabia é que um dia eu entraria no restaurante, veria o chef de cozinha - e também dono do lugar - e pensaria: ok, como eu nunca vi essa pessoa? Botei a culpa no fato de que eu estava namorando nos últimos anos e não prestei atenção (desatenta ela).
Segui ele no Instagram e ele me seguiu de volta no mesmo dia. Trocamos algumas mensagens e ficamos flertando por alguns meses. Era quase final de ano e eu estava no processo de mudança definitiva para São Paulo, iniciando uma nova fase da minha vida e com a cabeça a mil pelo Brasil.
No ano novo, estávamos passando a virada em duas praias muito próximas - eu em Ibiraquera e ele na Silveira. Finalmente decidimos sair e nos encontrar no lugar onde eu estava. Ibira é uma rua com 3 restaurantes e uma praia paradisíaca. Até tem uma pousada com um restaurante mais cool, mas eu levei ele pra comer camarão e tomar cerveja em uma mesa de plástico com copo de boteco. Fiquei pensando se levar um chef de cozinha nesse lugar seria uma afronta mas, no fim, ele adorou.
Conversamos por algum tempo, tomamos algumas várias cervejas, comemos os camarões com uma maionese duvidosa e fomos ver a lua na lagoa. Era uma noite clara e o céu estava mega iluminado. Ibira é o lugar em que sempre vejo várias estrelas cadentes, e aquela noite não foi diferente.
Depois de algumas risadinhas, acabamos nos beijando. Foi ótimo e intenso. Ficamos juntos até madrugada, e depois, voltei pra minha casa e ele para a dele.
Mas aqui começa: Muito se especula a respeito da nossa capacidade de, em um primeiro encontro, entender se aquela pessoa vai se transformar em algo a mais. Tirando aquelas pessoas que fantasiam uma história com absolutamente todo mundo (amo vocês, românticos obsessivos), eu não tenho muito a ideia de que todo mundo precisa ser alguém pra gente, entende?
Mas confesso que naquela noite dormi pensando que não.
Não é o momento, não é isso que eu preciso agora. Passamos mais dias nos falando, inclusive sobre passar o dia da virada juntos, e ele até se ofereceu para fazer a ceia da meia-noite - imagina, o chef de um dos meus restaurantes preferidos cozinhando pra mim e para as minhas amigas!
ÓBVIO que eu dei pra trás. Muito triste que a minha terapeuta estava de férias na época.
Um dia antes de irmos embora, cada um para a sua cidade e, nesse caso, estado, nos encontramos em Garopaba e tomamos uma cerveja de "despedida". Estávamos na frente do mar quando caiu uma chuva de verão daquelas e saímos correndo pro carro. Me lembro até hoje do pedido dele: "Espero que isso não termine aqui."
Voltei para São Paulo e fui atropelada por uma série de mudanças, rotina, trabalho e fiquei com a sensação de que a nossa história tinha sido mais uma proporcionada pelo verão.
Mas não. Ele não deixou ser.
Mantivemos o contato, nos ligamos algumas vezes e ele veio para São Paulo para me ver. O que aconteceu foi que eu não consegui ver ele. Sim, acabei arrumando desculpas e compromissos para não nos encontrarmos.
Não sei explicar muito bem o porquê da minha reação quando olho para trás. Acho que nós, mulheres, estamos tão acostumadas a essa obrigatoriedade de corresponder integralmente quando nos oferecem espaço e amor, que, quando recusamos isso, nos sentimos culpadas.
Eu me senti culpada. E quanto mais conversava com outras pessoas sobre toda essa história, mais me sentia confusa sobre esse espaço que eu estava me colocando: afinal, se ele não tinha absolutamente nada que me levasse a dizer não, porque eu acabei dizendo isso?
Hoje eu sei porque. Porque não precisamos estar sempre disponíveis. Escrevendo isso parece óbvio, mas sabemos que, dentro da complexidade de ser mulher, todos esperam que a gente esteja disponível para o amor, para abrir a porta da nossa casa, da nossa vida e arrumar espaço. Custe o que custar.
Hoje eu sei que não tem nada a ver com ele. Tem a ver com esse espaço. O espaço que eu decidi não abrir e isso não tem absolutamente nada a ver com não sentir.
Isso me faz menos romântica? Acho que não, tô escrevendo esse texto ouvindo "Devolva-me" da Adriana Calcanhotto.
Essa news do semdata é para falar sobre um date que deu certo, sobre amores e taças de vinho que no fim acabam sendo contadas, mas sem dúvida, também é um relato para lembrar a nossas leitoras que o principal, sempre, é saber respeitar o espaço mais importante de todos: o nosso.
Alla nostra!
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